Relatório da Administração

2012

Setor externo

As perspectivas econômicas globais no início do ano eram desfavoráveis em função da crise econômica de países europeus, do moderado crescimento nas demais economias avançadas e da desaceleração no ritmo de crescimento da China. No entanto, as medidas emergenciais adotadas pelo BCE refletiram em melhoria do cenário financeiro ainda em janeiro, o que permitiu ao BCB reiniciar o processo de acumulação de reservas internacionais em fevereiro.

As reservas internacionais são os valores que o país possui em moeda estrangeira, ouro e outros ativos externos de alta liquidez. Ter um bom estoque de reservas dá credibilidade externa ao país, pois mostra que é possível honrar seus pagamentos no exterior.

Porém, as baixas taxas de crescimento econômico ao redor do mundo e a falta de uma solução definitiva à crise europeia levaram a uma nova deterioração das condições financeiras globais no primeiro semestre do ano e à interrupção do processo de acumulação de reservas do BCB a partir do mês de abril. Nesse mês, o estoque das reservas alcançou o montante de US$374 bilhões.

Ao final de dezembro, as reservas atingiram US$378,6 bilhões, elevação de US$26,6 bilhões em relação a dezembro de 2011. Desse aumento, US$18,2 bilhões foram provenientes da compra de moeda estrangeira via intervenções no mercado de câmbio doméstico; US$4,4 bilhões, relativos à remuneração das aplicações das reservas; e US$4,1 bilhões, originados de outros fatores, em especial o aumento do preço dos títulos nos quais as reservas estão investidas.



Administração das reservas internacionais ganha certificação ISO 9001

O BCB recebeu, em outubro, a certificação ISO 9001 pela gestão das reservas internacionais brasileiras. A certificação é resultado de projeto de aprimoramento do gerenciamento das reservas, iniciado em 2010, com o objetivo de buscar as melhores práticas internacionais na gestão desses recursos. Como parte desse esforço, o BCB implementou, há um ano e meio, um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ), que é a base necessária para a obtenção da certificação. Os padrões normativos da ISO são adotados em mais de 140 países.

Foi por meio do estabelecimento de um conjunto de procedimentos padronizados e bem documentados, com metas e indicadores consistentes, que o BCB obteve esse reconhecimento externo da excelência na gestão das reservas internacionais.

Balanço de pagamentos

A crise financeira internacional e seus desdobramentos sobre a economia mundial contribuíram para a redução da corrente de comércio do Brasil, com ênfase na redução das exportações e do saldo comercial. O déficit em transações correntes do balanço de pagamentos ampliou-se no decorrer de 2012, acumulando US$54,2 bilhões, trajetória que decorreu da redução do saldo comercial e da elevação nas despesas líquidas de serviços. O financiamento do déficit em conta-corrente permaneceu centrado em capitais de longo prazo, principalmente investimentos estrangeiros diretos (IED), os quais foram mais que suficientes para a cobertura do déficit em transações correntes.

A balança comercial, fonte relevante para o financiamento do balanço de pagamentos, registrou superávit, ou seja, o valor das exportações superou o das importações. O resultado foi inferior ao do mesmo período de 2011. A corrente de comércio – soma das exportações e importações – também teve redução, na mesma base de comparação. As exportações de bens tiveram queda ante 2011, reflexo da perda de dinamismo da demanda global e do recuo nos preços de commodities relevantes para a pauta. As importações de bens também tiveram redução, na mesma base de comparação.

A desaceleração da atividade doméstica, notadamente no primeiro semestre, e a depreciação da taxa de câmbio nominal contribuíram para expressiva redução da remessa líquida de lucros e dividendos em relação ao ano anterior. Adicionalmente, a expansão das despesas líquidas da conta de serviços e do superávit nos fluxos líquidos de transferências unilaterais correntes contribuíram para que o déficit em transações correntes atingisse 2,4% do PIB em 2012.

As condições de financiamento do balanço de pagamentos permaneceram confortáveis, o que possibilitou manutenção da política de fortalecimento do setor externo da economia, apoiada na melhoria do perfil temporal e do custo do endividamento –preferência por passivos na forma de ações e de investimento direto – e na acumulação de reservas internacionais.

Na conta financeira, foi mantida a preponderância dos investimentos estrangeiros diretos como principal fonte de financiamento para o balanço de pagamentos do Brasil. Após o recorde de ingressos líquidos de US$66,7 bilhões ocorrido em 2011, esse valor atingiu US$65,3 bilhões no ano, distribuídos entre os diversos setores da atividade econômica, destacando-se comércio, metalurgia, fabricação de produtos alimentícios e serviços financeiros.

Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (United Nations Conference on Trade and Development – Unctad), com dados preliminares para o ano, a redução de 2,1% nos fluxos de IED direcionados ao Brasil mostrou-se bem menos intensa que a verificada nos fluxos mundiais, de 18,3%, permitindo ao país ampliar sua participação relativa.

Os fluxos líquidos de investimentos estrangeiros em carteira mantiveram-se positivos em 2012, apesar da redução na modalidade ações, na comparação com 2011. Os investidores estrangeiros adquiriram, liquidamente, US$5,6 bilhões em ações, ante US$7,2 bilhões no ano anterior. O declínio ocorreu mesmo após a redução da alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 2% para zero, efetivada em dezembro de 2011. Os investimentos estrangeiros em títulos de renda fixa no país totalizaram US$5,1 bilhões de ingressos líquidos no período, ante saídas líquidas de US$61 milhões no ano anterior.

As captações líquidas sob a forma de empréstimos e títulos de renda fixa negociados no mercado internacional, considerando apenas os instrumentos de médio e longo prazos, proporcionaram ingressos de US$18,6 bilhões no ano. A razão entre captação bruta de novos recursos e amortizações referentes a dívidas contraídas no passado resultaram em taxa de rolagem de 188%, explicitando ingressos líquidos positivos e, consequentemente, elevação do estoque de endividamento externo. Os instrumentos de curto prazo registraram amortizações líquidas de US$1,9 bilhão, influenciadas pela imposição da alíquota de 6% do IOF sobre novas contratações.

Câmbio

A taxa de câmbio nominal do real frente ao dólar norte-americano desvalorizou-se 8,9% no ano de 2012.

Indicadores de sustentabilidade externa

Em que pese a instabilidade da conjuntura econômica internacional, a percepção quanto à solidez das contas externas brasileiras seguiu favorável. Em relação aos indicadores de sustentabilidade externa, considerando-se as posições estimadas para dezembro, a dívida externa como proporção do PIB subiu 2 p.p. e a relação entre as reservas internacionais e a dívida externa aumentou 1,5 p.p. A posição credora da dívida externa líquida aumentou de US$72,9 bilhões para US$82,5 bilhões, e a dívida externa do setor público não financeiro passou de US$77,3 bilhões para US$85,4 bilhões.

A proporção entre a dívida externa líquida e o PIB caiu para -3,6%, ante -2,9%, e as razões entre o serviço da dívida e as exportações de bens e as exportações de bens e serviços atingiram 22,3% e 19,2%, ante 20,5% e 17,9%, respectivamente. Os desempenhos desses indicadores foram influenciados pelas reduções de 8,6%, 5,3% e 4%, na ordem, da estimativa para o PIB nominal em dólares, das exportações de bens e das exportações de bens e serviços acumuladas em doze meses; e pelas elevações de 6,2% da dívida externa total, de 13,2% na posição credora da dívida externa líquida, de 7,6% das reservas internacionais, e de 2,8% no serviço da dívida externa.