Demonstrações Financeiras e Avaliação de Resultados

As demonstrações financeiras do BCB são elaboradas de acordo com as Normas Internacionais de Informações Financeiras (IFRS), emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB), e compreendem os seguintes relatórios: Balanço Patrimonial; Demonstração do Resultado; Demonstração do Resultado Abrangente; Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido; e Demonstração dos Fluxos de Caixa de Moedas Estrangeiras.

O IASB é uma organização internacional que define padrões internacionais de contabilidade, com o objetivo de facilitar a análise e a comparação contábeis entre instituições de diferentes países.

Balanço Patrimonial

No Balanço Patrimonial, são apresentados os saldos das contas representativas de ativos e de passivos, segregados em moedas estrangeiras e moeda local, além do patrimônio líquido, no final do exercício.

Os ativos em moedas estrangeiras são representados basicamente por instrumentos financeiros referentes à aplicação das reservas internacionais, sob a forma de títulos, depósitos a prazo em instituições financeiras, operações compromissadas, ouro, entre outros tipos de operações.

As reservas internacionais são os valores que o BCB possui em moeda estrangeira, ouro e outros ativos de alta liquidez.

Nos ativos em moedas estrangeiras, também estão incluídos valores relativos a participações em organismos financeiros internacionais –FMI e BIS – e a créditos a receber do FMI referentes a empréstimos concedidos com o objetivo de reforçar a capacidade financeira do organismo.

No grupo de ativos em moeda local, parcela relevante (quase 95%) corresponde à carteira de títulos públicos federais, mantida pelo BCB como meio de viabilizar a execução da política monetária. Nesse grupo, destacam-se ainda os créditos com o governo federal, referentes ao resultado da equalização cambial no 2° semestre de 2012 a ser ressarcido pelo Tesouro Nacional e os créditos a receber de instituições em liquidação, originários de operações de assistência financeira (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional [Proer]) e de saldos decorrentes de saques a descoberto na conta Reservas Bancárias.

A operação de equalização cambial tem por objetivo dar maior transparência aos resultados das operações do BCB e reduzir a volatilidade do resultado da autoridade monetária, transferindo ao Tesouro Nacional o resultado do carregamento das reservas internacionais e das operações de swap cambial no mercado interno.

Em relação aos passivos, os lastreados em moedas estrangeiras são pouco representativos em relação aos demais grupos e incluem operações contratadas e ainda não liquidadas, cuja liquidação se dará em até três dias, depósitos e créditos de organismos financeiros internacionais, em particular do FMI, e operações compromissadas (compromisso de recompra) realizadas na gestão das reservas internacionais.

Os passivos em moeda local, por outro lado, registram principalmente:

  • as obrigações com o governo federal, referentes às disponibilidades do Tesouro Nacional depositadas no BCB (Conta Única); e ao resultado da equalização cambial no 2º semestre de 2013 e ao resultado positivo do BCB, a serem transferidos ao Tesouro Nacional;
  • o saldo de operações compromissadas (compromissos de recompra), lastreadas por títulos públicos federais da carteira do BCB, realizadas com fins de execução da política monetária; e
  • os depósitos de instituições financeiras, constituídos principalmente pelos recolhimentos compulsórios que representam tradicional instrumento de política monetária, desempenhando função de estabilizadores da liquidez da economia.

De acordo com a Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, o resultado positivo do BCB, apurado após a constituição ou reversão de reservas, constitui receita do Tesouro Nacional e será transferido após a aprovação das demonstrações semestrais. O resultado negativo, por sua vez, constituirá obrigação do Tesouro para com o Banco Central e será consignado em dotação específica no orçamento.

Para efeitos de posição patrimonial, também é tratado como passivo do BCB o meio circulante, que corresponde ao saldo de papel-moeda e moedas metálicas em circulação, em poder do público e das instituições financeiras, registrado pelo valor de emissão.

Demonstração do Resultado

A Demonstração do Resultado evidencia as receitas e as despesas da entidade durante o exercício, observando-se o regime de competência.

O ganho apresentado em relação às operações em moedas estrangeiras decorreu principalmente dos efeitos da variação cambial sobre o saldo das reservas internacionais. Em menor grau, também contribuíram para esse resultado a incorporação de juros e a marcação a mercado dos ativos de reserva.

Já no caso das operações em moeda local, não obstante o resultado líquido positivo obtido no confronto entre receitas e despesas de juros relacionadas aos títulos em carteira e às operações compromissadas, foram apuradas perdas líquidas, decorrentes principalmente de remuneração dos créditos do governo federal mantidos no BCB, em especial a Conta Única, remuneração dos depósitos compulsórios recolhidos das instituições financeiras e o resultado líquido da equalização cambial – mecanismo de transferência do resultado do carregamento das reservas internacionais e das operações de swap cambial, conforme já destacado.

Resultado Abrangente e Mutações do Patrimônio Líquido

Na Demonstração do Resultado Abrangente, são evidenciados os efeitos de variações patrimoniais que, de acordo com as normas contábeis, não transitam na Demonstração do Resultado, enquanto na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido é contemplada a movimentação das contas do patrimônio líquido durante o exercício social, evidenciando, inclusive, a destinação do resultado apurado.

Demonstração dos Fluxos de Caixa de Moedas Estrangeiras

Por fim, completando o conjunto de relatórios contábeis, é apresentada a Demonstração dos Fluxos de Caixa de Moedas Estrangeiras, que descreve todos os fluxos de caixa e equivalentes de caixa verificados durante o ano, principalmente os relacionados à administração das reservas internacionais, tais como recebimentos e pagamentos de juros, compras e vendas de títulos e de moedas, aplicações e resgates de depósitos e operações compromissadas, entre outros.

Pelo fato de o BCB ser a instituição responsável pela liquidez do sistema financeiro, portanto, detentor do direito de emissão, optou-se por não produzir Demonstração dos Fluxos de Caixa de Moeda Local, tendo em vista que não atenderia ao propósito desse tipo de demonstração, qual seja, evidenciar a capacidade da entidade de gerar caixa para fazer face a suas necessidades de liquidez.

Senhoriagem

O TCU recomendou, em 2011, que o BCB evidenciasse os fluxos relativos às receitas de senhoriagem obtidas na emissão monetária.

Senhoriagem é a receita ou o lucro proveniente do monopólio de emissão de moeda.

Tendo em vista não haver uma metodologia única para esse fim, o BCB considera os termos da recomendação do TCU e utiliza, para efeitos de divulgação, a “senhoriagem monetária”, que equivale ao poder de compra da nova moeda emitida e pode ser medida pela variação da base monetária, em termos reais. A tabela a seguir apresenta os valores calculados da senhoriagem de 2012 e 2013, considerando, inclusive, a dedução das despesas de produção e emissão de moedas.

A senhoriagem monetária se sustenta na premissa de que a moeda emitida não constitui um passivo do governo e, por consequência, não é um ativo do setor privado, uma vez que não há uma obrigação de resgate futuro.

Senhoriagem (em R$ milhões) 2012 2013
Variação do Meio Circulante 24.665 16.617
Variação dos Compulsórios sobre Depósitos à Vista -5.529 -479
= Variação da Base Monetária 19.136 16.138
IPCA 5,84% 5,91%
Receita de Senhoriagem 18.080 15.238
Despesas de produção e emissão de moedas -972 -1.399
= Lucro de Senhoriagem 17.108 13.839

Na contabilidade, a base monetária é tratada como passivo do BCB, sendo seu registro associado ao aumento de um ativo, o que é mais comum, ou à redução de outro passivo. Assim, o ganho de senhoriagem é reconhecido contabilmente de forma indireta – as receitas obtidas com os ativos incorporados ao patrimônio líquido ou a redução das despesas associadas ao passivo eliminado em contrapartida ao reconhecimento do aumento da base monetária.

Em síntese, embora a senhoriagem, em seu conceito monetário, origine-se no momento da emissão de moeda, do ponto de vista contábil, a receita só é reconhecida em razão da valorização dos ativos originados pelo aumento da base monetária. Isso se justifica pelo fato de que o aumento da base monetária caracteriza um fato permutativo, não resultando em aumentos do patrimônio líquido, condição básica para o reconhecimento de uma receita contábil.

O Iasb vincula o reconhecimento contábil das receitas à entrada de recursos ou ao aumento de ativos ou à diminuição de passivos, que resultam em aumento do patrimônio líquido.