Ata da 226ª Reunião do
Comitê de Política Monetária (Copom) do
Banco Central do Brasil
29 e 30 de outubro de 2019
Banco Central do Brasil
226ª Reunião do Copom
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Data: 29 e 30/10/2019
Local: Salas de reuniões do 8º andar (29/10) e do 20º andar (30/10) do Edifício-Sede do Banco Central do
Brasil Brasília DF
Horário de início e de término das sessões: 29/10: 10h03 12h58; 14h38 18h13
30/10: 14h00 18h06
Presentes:
Membros do Copom
Roberto Oliveira Campos Neto Presidente
Bruno Serra Fernandes
Carolina de Assis Barros
Fernanda Feitosa Nechio
João Manoel Pinho de Mello
Maurício Costa de Moura
Otávio Ribeiro Damaso
Paulo Sérgio Neves de Souza
Chefes de Departamento responsáveis por apresentações técnicas (presentes em 29/10)
Alan da Silva Andrade Mendes Departamento das Reservas Internacionais
André Minella Departamento de Estudos e Pesquisas (também presente em 30/10)
André de Oliveira Amante Departamento de Operações do Mercado Aberto
Flávio Túlio Vilela Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos
João Barata Ribeiro Blanco Barroso Departamento de Assuntos Internacionais
Tulio José Lenti Maciel Departamento Econômico
Demais participantes (presentes em 29/10)
Adalberto Felinto da Cruz Junior Secretário Executivo
Carlos Eduardo de Almeida Assessor Sênior no Gabinete do Diretor de Organização do Sistema
Financeiro e de Resolução
Eduardo José Araújo Lima Chefe de Gabinete do Diretor de Política Econômica
Enrico Bezerra Ximenes de Vasconcelos Secrerio do Comitê de Estabilidade Financeira e Consultor da Diretoria
Fabia Aparecida de Carvalho Chefe Adjunta do Departamento de Estudos e Pesquisas
Fabio Araujo Chefe da Assessoria Econômica ao Presidente
Gilneu Francisco Astolfi Vivan Chefe do Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro
Jaildo Lima de Oliveira Chefe do Departamento de Regulação Prudencial e Cambial
Leonardo Martins Nogueira Chefe de Gabinete do Presidente
Mauro Zanatta Assessor de Imprensa
Olavo Lins Romano Pereira Chefe de Gabinete do Diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de
Riscos Corporativos
Renato Baldini Junior Chefe do Departamento de Estatísticas
Ricardo Eyer Harris Chefe de Gabinete do Diretor de Regulação
Rogério Antônio Lucca Chefe de Gabinete do Diretor de Política Monetária
Sílvio Michael de Azevedo Costa Chefe Adjunto do Departamento de Assuntos Internacionais
Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas para a economia brasileira e para
a economia internacional, no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir as metas
fixadas pelo Conselho Monetário Nacional para a inflação.
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A) Atualização da conjuntura
econômica e do cenário básico do
Copom
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1. Indicadores de atividade econômica divulgados
desde a reunião anterior do Copom reforçam a
continuidade do processo de recuperação da economia
brasileira. O cenário do Copom supõe que essa
recuperação ocorrerá em ritmo gradual.
2. A economia segue operando com alto vel de
ociosidade dos fatores de produção, refletido nos
baixos índices de utilização da capacidade da indústria
e, principalmente, na taxa de desemprego.
3. No cenário externo, a provisão de estímulos
monetários adicionais nas principais economias, em
contexto de desaceleração econômica e de inflação
abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente
relativamente favorável para economias emergentes.
Entretanto, o cenário segue incerto, e os riscos
associados a uma desaceleração mais intensa da
economia global permanecem.
4. Diversas medidas de inflação subjacente encontram-
se em níveis confortáveis, inclusive os componentes
mais sensíveis ao ciclo econômico e à política
monetária.
5. As expectativas de inflação para 2019, 2020, 2021 e
2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em
torno de 3,3%, 3,6%, 3,75% e 3,5%, respectivamente.
6. No cenário com trajetórias para a taxa de juros e
câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do
Copom situam-se em torno de 3,4% para 2019, 3,6%
para 2020 e 3,5% para 2021. Esse cenário supõe
trajetória de juros que encerra 2019 em 4,50% a.a.,
permanece nesse patamar ao longo de 2020 e se eleva
até 6,38% a.a. em 2021. Também supõe trajetória para
a taxa de câmbio que termina 2019 em R$4,00/US$,
permanece nesse patamar ao longo de 2020 e encerra
2021 em R$3,95/US$. Nesse cenário, as projeções para
a inflação de preços administrados são de 5,2% para
2019, 4,0% para 2020 e 3,8% para 2021.
7. No cenário com trajetória de taxa de juros da
pesquisa Focus e taxa de câmbio constante em
R$4,05/US$
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, as projeções condicionais para a inflação
situam-se ao redor de 3,4% para 2019, 3,7% para 2020
e 3,6% para 2021. Nesse cenário, as projeções para a
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A menos de menção explícita em contrário, esta atualização
leva em conta as mudanças ocorridas desde a reunião do
Copom em setembro (225ª reunião).
inflação de preços administrados são de 5,2% para
2019, 4,1% para 2020 e 4,0% para 2021.
B) Riscos em torno do cenário básico
para a inflação
8. O cenário básico do Copom para a inflação envolve
fatores de risco em ambas as direções.
9. Por um lado, a combinação (i) do nível de ociosidade
elevado e (ii) da potencial propagação da inflação
corrente, por mecanismos inerciais, pode continuar
produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado.
10. Por outro lado, (iii) o atual grau de estímulo
monetário, que atua com defasagens sobre a economia,
aumenta a incerteza sobre os canais de transmissão e
pode elevar a trajetória da inflação no horizonte
relevante para a política monetária. O risco (iii) se
intensifica no caso de (iv) deterioração do cenário
externo para economias emergentes ou (v) eventual
frustração em relação à continuidade das reformas e à
perseverança nos ajustes necessários na economia
brasileira.
C) Discussão sobre a condução da
política monetária
11. Os membros do Copom avaliaram a evolução da
atividade econômica à luz dos indicadores e
informações disponíveis. Concluíram que os dados
divulgados desde sua reunião anterior reforçam a
continuidade do processo de recuperação da economia
brasileira. O Comitê estima que o Produto Interno
Bruto (PIB) deve ter apresentado crescimento no
terceiro trimestre. Os trimestres seguintes devem
apresentar alguma aceleração, que deve ser reforçada
pelos estímulos decorrentes da liberação de recursos
do FGTS e PIS-PASEP com impacto mais concentrado
no último trimestre de 2019. O cenário básico do
Copom supõe que o ritmo de crescimento subjacente
da economia, que exclui os efeitos de estímulos
temporários, será gradual.
12. Os membros do Copom avaliaram também a
evolução de indicadores de condições financeiras.
Concluíram que essas se encontram em níveis
favoráveis, não obstante alguma volatilidade inerente
a essas medidas. O ambiente com condições financeiras
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Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a
cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco
dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do
Copom.
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favoráveis resulta da ampliação do grau de estímulo
monetário, do ambiente externo relativamente
favorável para economias emergentes e das
perspectivas de melhoria dos fundamentos da
economia brasileira, como resultado da agenda de
reformas e ajustes necessários na economia. Essa
distensão das condições financeiras vem se refletindo
de maneira mais nítida na dinâmica dos mercados de
crédito livre e de capitais, que crescem a taxas robustas
neste momento do ciclo econômico.
13. Os membros do Copom debateram, também,
fatores que poderiam influenciar a atividade
econômica, no contexto dos profundos ajustes
necessários na economia brasileira, especialmente os
de natureza fiscal. Em contexto de espaço fiscal
limitado, enfatizaram a relevância da aprovação da
Reforma da Previdência pelo Congresso Nacional, mas
reforçaram a importância da continuidade do processo
de reformas e ajustes que gerem sustentabilidade da
trajetória fiscal. Ao reduzirem incertezas fundamentais
sobre a economia brasileira, essas reformas tendem a
trabalhar no mesmo sentido da política monetária e,
portanto, estimular o investimento privado. Esse
potencial efeito expansionista deve contrabalançar
impactos de ajustes fiscais correntes sobre a atividade
econômica, além de mitigar os riscos de episódios de
forte elevação de prêmios de risco.
14. O Copom reiterou o entendimento de que uma
aceleração do ritmo de retomada da economia para
patamares mais robustos também dependerá de outras
iniciativas e reformas microeconômicas que visam ao
aumento de produtividade, ganhos de eficiência, maior
flexibilidade da economia e melhoria do ambiente de
negócios. Esses esforços são fundamentais para a
retomada da atividade econômica e da trajetória de
desenvolvimento da economia brasileira. Iniciativas na
agenda estrutural do Banco Central (Agenda BC#)
contribuem para esse processo.
15. O Comitê discutiu ainda as características do atual
ciclo econômico, com menor participação do Estado na
economia, e suas possíveis implicações para a atuação
da política monetária. Alguns membros do Copom
destacaram que as mudanças no mercado de crédito e
na intermediação financeira, como o maior papel
desempenhado pelo crédito com recursos livres e pelo
mercado de capitais, podem impactar a transmissão da
política monetária. Os membros do Copom também
refletiram sobre a sensibilidade de variáveis
macroeconômicas à política monetária, uma vez que
faltam comparativos na história brasileira para o atual
grau de estímulo. Tendo em vista que a política
monetária opera com defasagens sobre a economia,
especialmente sobre o nível de preços, os fatores
avaliados tendem a aumentar a incerteza sobre os
canais de transmissão da política monetária.
16. No que tange à conjuntura internacional, os
membros do Copom avaliaram que o cenário segue
relativamente favorável para economias emergentes.
Por um lado, bancos centrais de diversas economias,
incluindo algumas centrais, têm provido estímulos
monetários adicionais, o que contribui para o
afrouxamento das condições financeiras globais. Por
outro lado, os membros do Copom avaliam que os
riscos associados a uma desaceleração da economia
global e a conflitos de natureza geopolítica
permanecem. As incertezas no cenário externo
implicam riscos para ativos cuja precificação dependa
sobremaneira de um cenário com taxas de juros globais
baixas e manutenção do ritmo de crescimento
econômico recente. Nesse contexto, os membros do
Copom voltaram a destacar a capacidade que a
economia brasileira apresenta de absorver revés no
cenário internacional, devido ao seu balanço de
pagamentos robusto, à ancoragem das expectativas de
inflação e à perspectiva de continuidade das reformas
estruturais e de recuperação econômica.
17. Os membros do Copom discutiram as projeções
recentes para a inflação e os níveis de diversas medidas
de inflação subjacente. Avaliaram que estas últimas
encontram-se em níveis confortáveis. As estimativas e
projeções de curto prazo indicam que a inflação
acumulada em doze meses ainda deve ter recuado em
outubro, para níveis ao redor das mínimas observadas
durante o regime de metas para a inflação, voltando a
se elevar ao longo dos últimos meses do ano. Essa
trajetória de curto prazo reflete uma inflação abaixo do
esperado pelo Copom em setembro e revisão, também
para baixo, da projeção referente ao mês de outubro.
Para o último bimestre deste ano, foram revistas as
projeções de alguns preços administrados, que, por sua
vez, compensaram aquelas surpresas desinflacionárias,
mantendo a projeção de inflação estável em relação à
da reunião anterior, no cenário com trajetória para a
taxa Selic extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio
constante.
18. No horizonte relevante para a política monetária, o
cenário com taxa Selic extraída da pesquisa Focus e
taxa de câmbio constante produz inflação abaixo da
meta para 2020 e ligeiramente abaixo da meta para
2021. Em relação à reunião do Copom de setembro, os
condicionantes tiveram efeitos opostos sobre a
inflação para 2020. Por um lado, o estímulo monetário
adicional advindo de taxas de juros mais baixas
contribuiu para a elevação da inflação ao longo do
horizonte relevante. Por outro lado, a antecipação de
alguns reajustes de preços administrados para 2019 e a
redução nas expectativas de inflação da pesquisa Focus
constituíram um vetor na direção oposta, que terminou
por preponderar. Para 2021, em relação à reunião do
Copom de setembro, os principais fatores para a queda
da projeção foram a propagação da inflação mais baixa
projetada para 2020 e revisão em preços
administrados.
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19. O Copom avalia que a conjuntura econômica com
expectativas de inflação ancoradas, medidas de
inflação subjacente em níveis confortáveis, cenários
com projeções para a inflação abaixo ou ligeiramente
abaixo da meta para o horizonte relevante de política
monetária e elevado grau de ociosidade na economia
prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com
taxas de juros abaixo da taxa estrutural. Os membros
do Copom avaliam que as atuais taxas de juros reais ex-
ante têm efeito estimulativo sobre a economia.
20. O Comitê reitera sua visão de que a continuidade
do processo de reformas e a perseverança nos ajustes
necessários na economia brasileira são essenciais para
permitir a consolidação da queda da taxa de juros
estrutural, para o funcionamento pleno da política
monetária e para a recuperação sustentável da
economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de
continuidade da agenda de reformas afeta as
expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
21. Na sequência, os membros do Copom avaliaram a
decisão de política monetária adequada, tendo em vista
a evolução do cenário básico e do balanço de riscos
desde sua reunião em setembro (225ª reunião). Todos
concluíram pela redução da taxa Selic para 5,00% a.a.
22. O Copom debateu, então, a conveniência de
oferecer alguma perspectiva sobre possíveis cenários
para a política monetária. Decidiu comunicar sua
avaliação de que a consolidação do cenário benigno
para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste
adicional, de igual magnitude, no grau de estímulo
monetário. Em seguida, o Comitê discutiu os benefícios
de oferecer alguma sinalização para além da próxima
reunião. Os membros do Copom decidiram reforçar que
o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela
em eventuais novos ajustes no grau de estímulo.
23. Tendo em vista sua preferência por explicitar
condicionalidades sobre a evolução da política
monetária, o que melhor transmite a racionalidade
econômica que guia suas decisões, o Copom julgou ser
fundamental reiterar que a comunicação dessa
avaliação não restringe suas próximas decisões e
enfatizar que os próximos passos da política monetária
continuarão dependendo da evolução da atividade
econômica, do balanço de riscos e das projeções e
expectativas de inflação.
D) Decisão de política monetária
24. Considerando o cenário básico, o balanço de riscos
e o amplo conjunto de informações disponíveis, o
Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa
básica de juros para 5,00% a.a. O Comitê entende que
essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de
riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a
convergência da inflação para a meta no horizonte
relevante para a condução da política monetária, que
inclui o ano-calendário de 2020 e, em menor grau, o de
2021.
25. O Copom reitera que a conjuntura econômica
prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com
taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
26. O Copom avalia que o processo de reformas e
ajustes necessários na economia brasileira tem
avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo
é essencial para permitir a consolidação da queda da
taxa de juros estrutural e para a recuperação
sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que
a percepção de continuidade da agenda de reformas
afeta as expectativas e projeções macroeconômicas
correntes.
27. Na avaliação do Copom, a evolução do cenário
básico e do balanço de riscos prescreve ajuste no grau
de estímulo monetário, com redução da taxa Selic em
0,50 ponto percentual. O Comitê avalia que a
consolidação do cenário benigno para a inflação
prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de
igual magnitude. O Copom entende que o atual estágio
do ciclo econômico recomenda cautela em eventuais
novos ajustes no grau de estímulo. O Copom reitera
que a comunicação dessa avaliação não restringe suas
próximas decisões e enfatiza que os próximos passos
da política monetária continuarão dependendo da
evolução da atividade econômica, do balanço de riscos
e das projeções e expectativas de inflação.
28. Votaram por essa decisão os seguintes membros
do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (Presidente),
Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros,
Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello,
Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e
Paulo Sérgio Neves de Souza.