Ata da 218ª Reunião do
Comitê de Política Monetária (Copom) do
Banco Central do Brasil
30 e 31 de outubro de 2018
Banco Central do Brasil
218ª Reunião do Copom
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Data: 30 e 31/10/2018
Local: Salas de reuniões do 8º andar (30/10) e do 20º andar (31/10) do Edifício-Sede do Banco Central do
Brasil Brasília DF
Horário de início e de término das sessões: 30/10: 10h05 11h45; 14h34 16h54
31/10: 14h 18h
Presentes:
Membros do Copom
Ilan Goldfajn Presidente
Carlos Viana de Carvalho
Carolina de Assis Barros
Maurício Costa de Moura
Otávio Ribeiro Damaso
Paulo Sérgio Neves de Souza
Reinaldo Le Grazie
Sidnei Corrêa Marques
Tiago Couto Berriel
Chefes de Departamento responsáveis por apresentações técnicas (presentes em 30/10)
Alan da Silva Andrade Mendes Departamento das Reservas Internacionais
André Minella Departamento de Estudos e Pesquisas (também presente em 31/10)
André de Oliveira Amante Departamento de Operações do Mercado Aberto
Flávio Túlio Vilela Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos
João Barata Ribeiro Blanco Barroso Departamento de Assuntos Internacionais
Tulio José Lenti Maciel Departamento Econômico
Demais participantes (presentes em 30/10)
Daniela Pires Ramos de Alcântara Chefe de Gabinete do Diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão
de Riscos Corporativos
Enrico Bezerra Ximenes de Vasconcelos Secrerio do Comitê de Estabilidade Financeira e Consultor da Diretoria
Eugênio Pacceli Ribeiro Chefe de Gabinete do Diretor de Política Econômica
Fabia Aparecida de Carvalho Chefe Adjunta do Departamento de Estudos e Pesquisas
Fabio Araujo Chefe da Assessoria Econômica ao Presidente
Fernando Alberto Sampaio Rocha Chefe do Departamento de Estatísticas
Gilneu Francisco Astolfi Vivan Chefe do Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro
Gustavo Paul Kurrle Assessor de Imprensa
João Henrique de Paula Freitas Simão Consultor do Departamento de Operações do Mercado Aberto
Kathleen Krause Chefe de Gabinete do Diretor de Regulação
Leonardo Martins Nogueira Chefe de Gabinete do Presidente
Rogério Antônio Lucca Chefe de Gabinete do Diretor de Política Monetária
Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas para a economia brasileira e para
a economia internacional, no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir as metas
fixadas pelo Conselho Monetário Nacional para a inflação.
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A) Atualização da conjuntura
econômica e do cenário básico do
Copom
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1. Indicadores recentes da atividade econômica
continuam evidenciando recuperação da economia
brasileira, em ritmo mais gradual que o vislumbrado no
início do ano.
2. A economia segue operando com alto vel de
ociosidade dos fatores de produção, refletido nos
baixos índices de utilização da capacidade da indústria
e, principalmente, na taxa de desemprego.
3. O cenário externo permanece desafiador, com
apetite ao risco em relação a economias emergentes
aquém do nível vigente no início do ano. Os principais
riscos seguem associados à normalização das taxas de
juros em algumas economias avançadas e a incertezas
referentes ao comércio global.
4. Diversas medidas de inflação subjacente se
encontram em níveis apropriados, inclusive os
componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à
política monetária.
5. As expectativas de inflação para 2018, 2019 e 2020
apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno
de 4,4%, 4,2% e 4,0%, respectivamente. As
expectativas para 2021 permaneceram em torno de
3,9%.
6. No cenário com trajetórias para as taxas Selic e de
câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do
Copom situam-se em torno de 4,4% para 2018, 4,2%
para 2019 e 3,7% para 2020. Esse cenário supõe, entre
outras hipóteses, trajetória de taxa Selic que encerra
2018 em 6,50% a.a., se eleva a 8,0% a.a. em 2019 e
permanece nesse patamar até o final de 2020. Também
supõe trajetória de taxa de câmbio que termina 2018
em R$3,71/US$, 2019 em R$3,80/US$ e 2020 em
R$3,75/US$. Nesse cenário, as projeções para a inflação
de preços administrados são de 7,4% para 2018, 5,6%
para 2019 e 3,9% para 2020.
7. No cenário com taxa Selic constante em 6,50% a.a. e
taxa de câmbio constante a R$3,70/US$
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, as projeções
para a inflação do Copom situam-se em torno de 4,4%
para 2018, 4,2% para 2019 e 4,1% para 2020. Nesse
cenário, as projeções para a inflação de preços
administrados são de 7,3% para 2018, 5,4% para 2019 e
4,1% para 2020.
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A menos de menção explícita em contrário, esta atualização
leva em conta as mudanças ocorridas desde a reunião do
Copom em setembro (217ª reunião).
B) Riscos em torno do cenário básico
para a inflação
8. O cenário básico do Copom para a inflação envolve
fatores de risco em ambas as direções, mas com maior
peso nos dois últimos riscos, listados abaixo.
9. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode
produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado.
10. Por outro lado, (ii) uma frustração das expectativas
sobre a continuidade das reformas e ajustes
necessários na economia brasileira pode afetar prêmios
de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte
relevante para a política monetária. Esse risco se
intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário
externo para economias emergentes. O Comitê julga
que o grau de assimetria do balanço de riscos diminuiu
desde sua reunião anterior.
C) Discussão sobre a condução da
política monetária
11. Os membros do Comitê avaliaram a evolução da
atividade econômica à luz dos indicadores e demais
informações disponíveis. Concluíram que os dados
indicam continuidade do processo de recuperação da
economia brasileira, em ritmo mais gradual que o
vislumbrado no início do ano.
12. No que tange à conjuntura internacional, os
membros do Comitê ponderaram que o cenário se
mantém desafiador para economias emergentes.
Avaliaram que, desde sua reunião anterior, o apetite ao
risco em relação a ativos dessas economias apresentou
estabilidade em contraste com a tendência de piora
observada nos meses anteriores. Entretanto, a
avaliação consensual foi de que essa estabilização se
deu em níveis aquém dos vigentes no início do ano, o
que implica prêmios de risco mais elevados. Além disso,
desde a reunião anterior do Copom, os preços de ativos
de risco em um número de economias avançadas
apresentaram maior volatilidade, em contraste com a
evolução favorável observada anteriormente. O
cenário básico do Copom contempla normalização
gradual da política monetária nos países centrais. Os
membros do Copom mencionaram também os riscos
associados à continuidade da expansão do comércio
internacional, com possíveis impactos sobre o
crescimento global e sobre a economia chinesa, em
particular. Nesse contexto, voltaram a destacar a
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Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a
cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco
dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do
Copom.
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capacidade que a economia brasileira apresenta de
absorver revés no cenário internacional, devido à
situação robusta de seu balanço de pagamentos e ao
ambiente com expectativas de inflação ancoradas e
perspectiva de recuperação econômica.
13. Os membros do Comitê destacaram também a
diminuição de incertezas no âmbito doméstico, que
produziu redução dos prêmios de risco embutidos nos
preços de ativos brasileiros. Essa diminuição de
incertezas contribuiu para redução do grau de
assimetria no balanço de riscos para a inflação. Não
obstante essa melhora, os membros do Copom
concluíram que os riscos altistas para a inflação seguem
com maior peso em seu balanço de riscos.
14. Os membros do Copom analisaram a trajetória da
inflação nos próximos meses. Essa trajetória deve
produzir elevação da inflação acumulada em doze
meses, a atingir um pico por volta do segundo
trimestre de 2019. A partir de então, a inflação
acumulada em 12 meses deve recuar ao longo do
resto de 2019, em direção à meta.
15. No que tange à inflação subjacente, nos últimos
meses suas diversas medidas se elevaram a partir de
níveis considerados baixos, atingindo veis que o
Comitê julga apropriados ou seja, de modo geral
consistentes com as metas para a inflação. Ajustes de
preços relativos parecem ter contribuído para elevar a
inflação para níveis compatíveis com as metas em
contexto com expectativas ancoradas, o que não
deveria constituir risco para a manutenção da inflação
nesses níveis após concluídos os referidos ajustes.
Entretanto, os membros do Comitê reforçaram a
importância de acompanhar a evolução da trajetória
prospectiva da inflação no médio e longo prazos, além
da ancoragem das expectativas de inflação, visando
avaliar o possível impacto mais perene de choques
recentes sobre a inflação (i.e., seus efeitos
secundários).
16. Na sequência, os membros do Copom debateram a
conveniência de manter em seus documentos oficiais a
mensagem sobre princípios de condução da política
monetária diante de choques de preços relativos num
regime de metas para a inflação com expectativas
ancoradas. O Copom tem comunicado que, nesse
contexto, eventuais choques que produzam ajustes de
preços relativos devem ter apenas seus efeitos
secundários combatidos pela política monetária. Tem
destacado, também, que sua reação a possíveis
mudanças de preços relativos será simétrica, ou seja, a
política monetária seguirá os mesmos princípios tanto
diante de choques inflacionários (como no caso de
choques que produzam depreciação cambial) quanto
desinflacionários (como no caso de um choque
favorável nos preços de alimentos). Ponderaram que já
deveria estar claro que não relação mecânica entre
choques que produzam ajustes de preços relativos e a
política monetária. Concordaram, portanto, em excluir
essa mensagem a partir de sua próxima reunião, com o
entendimento que isso não deveria ser interpretado
como mudança de sua forma de condução da política
monetária.
17. Os membros do Comitê discutiram também o grau
de repasse cambial na economia brasileira. Avaliaram
que, com exceção de alguns preços administrados, o
nível de repasse tem se mostrado contido. Ponderaram,
entretanto, que a intensidade do repasse de
movimentos no câmbio para a inflação depende de
vários fatores, como, por exemplo, do nível de
ociosidade da economia e da ancoragem das
expectativas de inflação. O Comitê continuará
acompanhando diferentes medidas de repasse cambial,
inclusive para medidas de inflação subjacente.
18. Os membros do Comitê avaliaram que a conjuntura
econômica com expectativas de inflação ancoradas,
medidas de inflação subjacente em níveis apropriados,
projeções de inflação próximas da meta para 2019 e
2020 e elevado grau de ociosidade na economia ainda
prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com
taxas de juros abaixo da taxa estrutural. Embora
estimativas dessa taxa envolvam elevado grau de
incerteza, os membros do Comitê manifestaram
entendimento de que as atuais taxas de juros reais ex-
ante têm efeito estimulativo sobre a economia.
19. Os membros do Copom debateram também as
condicionalidades que prescreveriam política
monetária estimulativa. Todos concordaram que o grau
de estímulo adequado depende das condições da
conjuntura, em particular, das expectativas de inflação,
da capacidade ociosa na economia, do balanço de riscos
e das projeções de inflação. Em especial, a provisão de
estímulo monetário requer ambiente com expectativas
de inflação ancoradas. O Comitê avaliou que esse
estímulo deve ser removido gradualmente caso o
cenário prospectivo para a inflação no horizonte
relevante para a política monetária e/ou seu balanço de
riscos apresentem piora.
20. O Copom reitera sua visão de que a continuidade
do processo de reformas e ajustes necessários na
economia brasileira é essencial para a queda da sua
taxa de juros estrutural, cujas estimativas serão
continuamente reavaliadas pelo Comitê.
21. Na sequência, os membros do Copom avaliaram a
decisão de política monetária adequada, tendo em vista
a evolução do cenário básico e do balanço de riscos
desde sua reunião em setembro (217ª reunião). Todos
concluíram pela manutenção da taxa Selic em 6,50%
a.a.
22. O Copom debateu, então, a conveniência de
sinalização sobre a evolução futura da política
monetária. Não obstante a redução do grau de
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assimetria do balanço de riscos, todos concordaram
que a atual conjuntura recomenda manutenção de
maior flexibilidade para condução da política
monetária, o que implica abster-se de fornecer
indicações sobre seus próximos passos. Os membros do
Copom reforçaram a importância de enfatizar seu
compromisso de conduzir a política monetária visando
manter a trajetória da inflação em linha com as metas.
Isso requer a flexibilidade para ajustar gradualmente a
condução da política monetária quando e se houver
necessidade. Essa capacidade de resposta a distintas
circunstâncias contribui para a manutenção do
ambiente com expectativas ancoradas, o que é
fundamental para garantir que a conquista da inflação
baixa perdure, mesmo diante de choques adversos.
23. Os membros do Comitê reafirmaram sua
preferência por explicitar condicionalidades sobre a
evolução da política monetária, o que melhor transmite
a racionalidade econômica que guia suas decisões. Isso
contribui para aumentar a transparência e melhorar a
comunicação do Copom. Nesse contexto, voltaram a
ressaltar que os próximos passos na condução da
política monetária continuarão dependendo da
evolução da atividade econômica, do balanço de riscos
e das projeções e expectativas de inflação.
24. Todos os membros do Comitê voltaram a enfatizar
que a aprovação e implementação das reformas,
notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na
economia brasileira são fundamentais para a
sustentabilidade do ambiente com inflação baixa e
estável, para o funcionamento pleno da política
monetária e para a redução da taxa de juros estrutural
da economia, com amplos benefícios para a sociedade.
O Comitê ressalta ainda que a percepção de
continuidade da agenda de reformas afeta as
expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
25. Os membros do Copom destacaram também a
importância de outras iniciativas que visam aumento de
produtividade, ganhos de eficiência, maior flexibilidade
da economia e melhoria do ambiente de negócios.
Esses esforços são fundamentais para a retomada da
atividade econômica e da trajetória de
desenvolvimento da economia brasileira.
D) Decisão de política monetária
26. Considerando o cenário básico, o balanço de riscos
e o amplo conjunto de informações disponíveis, o
Copom decidiu, por unanimidade, pela manutenção da
taxa básica de juros em 6,50% a.a. O Comitê entende
que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço
de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com
a convergência da inflação para a meta no horizonte
relevante para a condução da política monetária, que
inclui o ano-calendário de 2019 e, em menor grau, de
2020.
27. O Comitê enfatiza que a continuidade do processo
de reformas e ajustes necessários na economia
brasileira é essencial para a manutenção da inflação
baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de
juros estrutural e para a recuperação sustentável da
economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de
continuidade da agenda de reformas afeta as
expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
28. O Copom entende que deve pautar sua atuação
com foco na evolução das projeções e expectativas de
inflação, do seu balanço de riscos e da atividade
econômica. Choques que produzam ajustes de preços
relativos devem ser combatidos apenas no impacto
secundário que poderão ter na inflação prospectiva
(i.e., na propagação a preços da economia não
diretamente afetados pelo choque). É por meio desses
efeitos secundários que esses choques podem afetar as
projeções e expectativas de inflação e alterar o balanço
de riscos. Esses efeitos podem ser mitigados pelo grau
de ociosidade na economia e pelas expectativas de
inflação ancoradas nas metas. Portanto, não há relação
mecânica entre choques recentes e a política
monetária.
29. O Copom reitera que a conjuntura econômica ainda
prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com
taxas de juros abaixo da taxa estrutural. Esse estímulo
começará a ser removido gradualmente caso o cenário
prospectivo para a inflação no horizonte relevante para
a política monetária e/ou seu balanço de riscos
apresentem piora.
30. Na avaliação do Copom, a evolução do cenário
básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da
taxa Selic no nível vigente. O Copom ressalta que os
próximos passos da política monetária continuarão
dependendo da evolução da atividade econômica, do
balanço de riscos e das projeções e expectativas de
inflação.
31. Votaram por essa decisão os seguintes membros
do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Carlos Viana de
Carvalho, Carolina de Assis Barros, Maurício Costa de
Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de
Souza, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e
Tiago Couto Berriel.