Sumário
Data: 15 e
16/3/2005
Local: Sala de
reuniões do 8º andar (15/3) e do 20º andar (16/3) do Edifício-Sede do Banco
Central – Brasília – DF
Horário de início:
16h29 (15/3) e 16h43 (16/3)
Horário de término:
18h53 (15/3) e 19h03 (16/3)
Presentes:
Membros do
Copom
Henrique de Campos Meirelles – Presidente
Afonso Sant’Anna Bevilaqua
Alexandre Schwartsman
Antonio Gustavo Matos do Vale
Eduardo Henrique de Mello Motta Loyo
João Antônio Fleury Teixeira
Paulo Sérgio Cavalheiro
Rodrigo
Telles da Rocha Azevedo
Sérgio Darcy da Silva Alves
Chefes de
Departamento (todos presentes no dia 15)
Altamir Lopes – Departamento Econômico
André Minella – Departamento de Estudos e Pesquisas (também
presente no dia 16)
Joao Henrique de Paula Freitas Simão – Departamento de
Operações do Mercado Aberto
José Antônio Marciano – Departamento de Operações Bancárias
e de Sistema de Pagamentos
José Pedro Ramos Fachada Martins da Silva –
Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores
Renato Jansson Rosek – Departamento de Operações das
Reservas Internacionais
Demais participantes
(presentes no dia 15)
Alexandre Pundek Rocha – Consultor da Diretoria
Flavio Pinheiro de Melo – Consultor da Diretoria
Hélio José Ferreira – Secretário-Executivo da Presidência
Katherine Hennings – Consultora da Diretoria
João Batista do Nascimento Magalhães – Assessor Especial da
Presidência
Jocimar Nastari – Assessor de Imprensa
Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as
perspectivas para a economia brasileira e para a economia internacional, no
contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir as metas
fixadas pelo governo para a inflação.
1.
A inflação manteve-se em patamar elevado em fevereiro
como decorrência, principalmente, dos aumentos pontuais de preços em itens
cujos impactos sobrepuseram-se aos efeitos da desaceleração que abrangeu a
maior parte dos componentes dos índices, no período. Relativamente ao Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), prevaleceu a pressão sazonal
exercida pelos reajustes dos preços da educação. No atacado, a despeito do
arrefecimento nos preços industriais, predominaram sobre o comportamento dos
índices as acentuadas elevações em itens dos produtos agrícolas, em particular
dos hortifrutigranjeiros.
2.
O IPCA variou 0,59% em fevereiro, ante 0,58% no mês
anterior. Com esse resultado, a variação acumulada em doze meses atingiu 7,39%,
comparativamente a 7,41% em janeiro. O conjunto dos preços livres considerados
no cálculo do IPCA aumentou 0,77% em fevereiro, frente a 0,61% no mês anterior,
respondendo por 0,54 p.p. da variação mensal do índice. Além do efeito da
variação dos preços da educação, cuja contribuição para a variação no mês
atingiu 0,25 p.p., destacou-se a alta de 6,4% dos alimentos in natura,
responsável por 0,09 p.p. do resultado no período. Devido a essa elevação, os
alimentos, em seu conjunto, ficaram 0,49% mais caros em fevereiro, a despeito
da desaceleração nos preços de importantes produtos da cesta básica. Os
preços monitorados e administrados por
contrato variaram 0,16%.
3.
O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna
(IGP-DI) registrou variação de 0,4% em fevereiro, ante 0,33% no mês anterior,
acumulando aumento de 10,86% em doze meses. Considerados os componentes do
IGP-DI, o Índice de Preços ao Consumidor – Brasil (IPC-Br) aumentou 0,43% no
mês, após alta de 0,85% em janeiro, quando captou a maior parte do impacto sazonal
do reajuste relativo à educação. A elevação do Índice Nacional do Custo da
Construção (INCC) atingiu 0,44% em fevereiro, desacelerando em relação à
variação de 0,75% observada no mês anterior, dada a ausência de reajuste na
mão-de-obra no período. A variação do Índice de Preços por Atacado –
Disponibilidade Interna (IPA-DI) subiu de 0,08% em janeiro para 0,39% em
fevereiro, acumulando 12,74% em doze meses.
4.
A aceleração do IPA-DI em fevereiro refletiu,
sobretudo, o aumento de 1,28% nos preços agrícolas no período, comparativamente
à queda de 0,63% no mês anterior. Nesse grupo, apesar das quedas nos preços de
aves, soja, suínos, feijão e bovinos, prevaleceram as acentuadas elevações
observadas nos preços de ovos, 26,3%, de legumes e frutas, 13,6%, e de café em
coco, 9,1%. Quanto à evolução dos preços industriais, registrou-se alta de
0,08% em fevereiro, ante 0,33% em janeiro, arrefecimento que refletiu a
desaceleração na maior parte dos preços dos gêneros industriais. Considerando o
Índice de Preços por Atacado (IPA) segundo os estágios de processamento,
verificou-se, de janeiro para fevereiro, aceleração na elevação dos preços de
bens finais, particularmente alimentos in natura, e de bens
intermediários, enquanto a queda nos preços das matérias-primas brutas
mostrou-se mais intensa em fevereiro, -1,1%, ante -0,64% em janeiro.
5.
Os núcleos de inflação para o IPCA, obtidos pelo método
das médias aparadas, recuaram em fevereiro. O núcleo com suavização situou-se
em 0,6%, comparativamente a 0,66% no mês anterior, e totalizou 7,58% em doze
meses. A mesma medida para o núcleo, calculada sem o procedimento de suavização
de itens preestabelecidos, passou de 0,59% em janeiro para 0,43% em fevereiro,
com aumento de 6,5% em doze meses.
6.
O núcleo calculado pela exclusão de alimentos no
domicílio e preços monitorados refletiu os efeitos da elevada contribuição do
item educação no mês, alcançando 0,93% em fevereiro, ante 0,56% em janeiro,
acumulando 7,78% em doze meses. Ressalte-se que, sem a contribuição desse item,
o núcleo por exclusão teria ficado em 0,5% no mês.
7.
O núcleo de inflação para o IPC-Br, calculado pela
Fundação Getulio Vargas (FGV) pelo método das médias aparadas simétricas,
atingiu 0,36% em fevereiro, ante 0,61% em janeiro, totalizando alta de 5,72% em
doze meses.
8.
O índice de difusão do IPCA mostrou redução no número
de itens que registraram variações positivas em fevereiro, após quatro meses
consecutivos em alta, situando-se em 64,6%, ante 73,6% em janeiro e 68% em
dezembro e 67,6% em novembro.
9.
Os choques identificados e os impactos foram
reavaliados de acordo com as novas informações disponíveis. O cenário
considerado nas simulações contempla as seguintes hipóteses:
a) as
projeções para os reajustes totais nos preços da gasolina e de gás de botijão
para 2005 foram mantidas em valor igual ao da reunião anterior: 0%;
b) quanto
às tarifas de telefonia fixa e energia elétrica residencial, as projeções de
reajustes para todo o ano de 2005 foram mantidas em valores iguais aos da
reunião de fevereiro, 8,7% e 9,5%, respectivamente;
c) considerando
o total de itens administrados por contrato e monitorados, com peso de 29,6% no
IPCA de fevereiro, a projeção foi alterada de 6,7% para 6,9% para o acumulado
em 2005;
d) em
relação à projeção de reajuste do conjunto dos itens administrados por contrato
e monitorados para 2006, baseada no modelo de determinação endógena de preços
administrados, não houve alteração, permanecendo em 5,1%. Esse modelo considera
componentes sazonais, variações cambiais, inflação de preços livres e inflação
medida pelo Índice Geral de Preços (IGP);
e) a
projeção para o spread de seis meses sobre a taxa Selic, seguindo
especificação de um modelo VAR que utiliza Selic e swap em níveis a
partir dos valores vigentes nos dias que antecederam a reunião do Copom, parte
de uma média de 19 p.b. no primeiro trimestre de 2005 e alcança 46 p.b. no
último trimestre de 2006.
10.
Em relação à política fiscal, supõe-se o cumprimento da
meta de superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005 e em
2006. São mantidas as demais hipóteses consideradas na reunião anterior.
11.
A partir das hipóteses do cenário de referência, que
incluem a manutenção da taxa de juros em 18,75% ao ano e da taxa de câmbio em patamar
próximo ao que prevalecia na véspera da reunião do Copom (R$2,70), concluiu-se
que as projeções de inflação estão acima do objetivo de 5,1% para 2005, mas
abaixo do centro da meta em 2006. No cenário de mercado, que incorpora as
trajetórias para a taxa de câmbio e para a taxa Selic esperadas pelos agentes
do mercado na véspera da reunião do Copom, de acordo com os dados da pesquisa
realizada pela Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin) do
Banco Central do Brasil, as projeções se encontram acima do objetivo de 5,1%
para 2005 e acima da meta de 4,5% para 2006.
12.
A variação do IPCA de 0,59% em fevereiro foi
praticamente igual à registrada em janeiro, e só não foi menor por conta de
fatores sazonais, em particular, pelo reajuste anual das mensalidades
escolares, concentrado no mês. De fato, o item educação subiu 5,28%,
contribuindo com 0,25 p.p. do aumento do IPCA em fevereiro. Além disso, os
alimentos in natura apresentaram aumento de 6,39%, por força de fatores
climáticos, contribuindo também para a permanência da taxa mensal no mesmo
patamar que no mês anterior. Como resultado, os preços dos bens
não-comercializáveis aumentaram 1,68%, em contraste com os bens
comercializáveis e monitorados, cujos preços subiram 0,06% e 0,16%,
respectivamente. Apesar da manutenção da inflação mensal no mesmo nível que em
janeiro, reduziu-se em fevereiro o número de itens no índice que tiveram
incremento de preços, revertendo a tendência registrada por esse indicador em
meses recentes.
13.
A inflação medida pelo IGP-DI registrou ligeira
aceleração em fevereiro, subindo para 0,40%, após dois meses consecutivos de
desaceleração. O aumento da inflação do IPA, de 0,08% em janeiro para 0,39% em
fevereiro, decorreu de forte pressão dos preços dos produtos agrícolas. O
IPA produtos agrícolas aumentou 1,28%
em fevereiro, sofrendo efeito de condições climáticas adversas e contrariando a
expectativa de que a sazonalidade positiva dos alimentos pudesse estar se
antecipando em relação a anos anteriores. Esse comportamento poderá ser
reforçado nos próximos meses pelos reflexos da alta recente dos preços das commodities
agrícolas no mercado internacional. O IPA de produtos industriais, por sua vez,
manteve a trajetória de desaceleração observada desde dezembro e registrou
variação de apenas 0,08% em fevereiro, acumulando um aumento de 0,79% nos três
últimos meses. A menor variação em meses recentes reflete, em parte, a
apreciação cambial observada no período e a própria ação da política monetária,
podendo ter efeitos benéficos sobre a variação futura dos preços ao consumidor.
A intensidade desses repasses dependerá, naturalmente, das condições
prospectivas de demanda e das expectativas dos formadores de preços em relação
à trajetória futura da inflação.
14.
A concentração da pressão inflacionária em um menor
número de itens contribuiu para que os núcleos por médias aparadas com e sem
suavização voltassem a se desacelerar, invertendo a trajetória observada até
dezembro. Por sua vez, o núcleo do IPCA por exclusão de itens monitorados e
alimentos no domicílio registrou aceleração em fevereiro, em virtude do aumento
localizado nas mensalidades escolares, cujo impacto é naturalmente ainda maior
sobre o núcleo por exclusão do que sobre o IPCA pleno. Caso sua contribuição
fosse expurgada do índice por exclusão, essa medida da inflação subjacente
teria mostrado desaceleração entre janeiro e fevereiro.
15.
A forte expansão econômica ao longo de 2004 foi
confirmada pelo crescimento de 5,2% do PIB, a maior taxa dos últimos dez anos.
O consumo das famílias apresentou um crescimento de 4,3%, a maior taxa anual desde 1995. A formação
bruta de capital fixo aumentou 10,9%, o que representa a maior elevação desde
1994. Considerando o último trimestre de 2004, o consumo das famílias cresceu
1,3% em relação ao trimestre anterior, e a formação bruta de capital fixa teve
queda de 3,9% (dados dessazonalizados). No entanto, em virtude do forte
crescimento observado nos trimestres anteriores, especialmente no terceiro
trimestre, quando se atingiu uma taxa de 6,8%, a queda da formação de capital
no quarto trimestre pode refletir apenas um ajuste temporário, compatível com a
volatilidade característica dos dados de investimento. O PIB, por sua vez,
cresceu 0,4% no último trimestre. Dado o crescimento vigoroso da atividade
registrado em trimestres anteriores, essa acomodação era esperada e é
consistente com um cenário de manutenção, em bases sustentadas, da trajetória
de expansão iniciada no segundo semestre de 2003. Conforme destacado em Notas
de reuniões passadas do Copom, é natural que, em seguida ao impulso inicial
mais vigoroso que marca a retomada da atividade, o processo de crescimento
tenda a convergir para taxas mais condizentes com o ritmo de expansão da
capacidade produtiva.
16.
Nos últimos meses, a economia continua mostrando sinais
de expansão, mas, previsivelmente, em um ritmo menos intenso do que o
registrado ao longo de 2004. Embora a produção industrial tenha recuado 0,5% em
janeiro em relação ao mês anterior, de acordo com dados dessazonalizados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse resultado refletiu
uma desaceleração inferior às expectativas dos analistas e não indica tendência
de queda do nível da produção industrial.
Considerada a média móvel trimestral, a produção tem se mantido estável
nos últimos meses, em patamar superior aos níveis já elevados de meados de
2004. A produção em janeiro situou-se 5,9% acima do nível do mesmo mês do ano
passado. Nos doze meses acumulados até janeiro, a produção industrial continua
registrando taxa de crescimento elevada, de 8,5% em relação aos doze meses
anteriores. Indicadores antecedentes e coincidentes sinalizam aumento da
produção industrial em fevereiro.
17.
Considerando-se a composição da atividade industrial, a
produção de bens de consumo não duráveis e semiduráveis expandiu-se em 3,7% em
janeiro. Esse foi o terceiro mês consecutivo de crescimento dessa categoria em
relação ao mês imediatamente anterior. Entre novembro de 2004 e janeiro de 2005,
a expansão dessa categoria alcançou 7,4%. Os demais setores mostraram recuo em
janeiro em relação a dezembro. Conforme destacado nas Notas das reuniões
passadas do Copom, esse desempenho ratifica a tendência recente de mudança na
composição da atividade na economia, com o crescimento econômico passando a ser
sustentado cada vez mais pelos setores mais dependentes da renda. A suavização
das séries pelo uso de médias móveis trimestrais indica que os bens de consumo
semiduráveis e não duráveis mostram expansão a taxas crescentes nos meses
recentes, enquanto as demais categorias apresentam estabilidade ou pequena
retração.
18.
O comportamento recente do mercado de trabalho também
sugere estar em curso um ciclo econômico crescentemente impulsionado pelo
crescimento da renda. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, a
taxa de desocupação subiu para 10,2% em janeiro, seguindo o padrão sazonal
típico de reversão em relação à taxa do final do ano. A taxa de janeiro
situou-se, porém, em nível inferior aos 11,7% observados no mesmo mês em 2004.
O número de ocupados reduziu-se em janeiro, mas, ainda assim, a massa salarial
registrou aumento. Na indústria de
transformação, o nível de emprego voltou a apresentar crescimento em janeiro,
segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), dando prosseguimento
à trajetória ascendente seguida pelo emprego desde dezembro de 2003. A massa
salarial real na indústria registrou ligeira acomodação, permanecendo, porém,
10,4% acima do registrado em janeiro de 2004.
19.
O patamar de vendas no comércio apresentou expressivo
aumento nos últimos meses. A queda de 0,3% registrada nas vendas no varejo na
Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE, segundo dados dessazonalizados pelo
Banco Central, é pouco significativa se considerarmos que ela ocorre logo após
as vendas terem crescido 3,8% em dezembro, na comparação com o mês anterior. A
média móvel trimestral revela, de fato, expansão de 1,3% no mês, pouco inferior
à observada em dezembro. Os itens mais dependentes da renda e do emprego têm
apresentado o crescimento mais intenso. Considerando-se a média móvel de três
meses, o grupo hiper e supermercados continua em trajetória acentuada de
crescimento, iniciada em meados de 2004. Mais recentemente, em dezembro e
janeiro, o grupo tecidos, vestuários e calçados também apresentou forte
crescimento. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) medido pela Federação do
Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio SP), apresentou pequena queda em
março em relação a fevereiro, mas continua em níveis recordes em relação ao
histórico anterior da série. Além disso, as operações de crédito com recursos
livres cresceram 2,5% em fevereiro em relação a janeiro. Esses indicadores,
juntamente com os referentes à evolução do emprego e da renda, sugerem que as
vendas deverão permanecer em trajetória de crescimento.
20.
Conforme destacado repetidamente nas Notas das últimas
reuniões do Copom, em função da forte expansão na atividade desde o fim de
2003, um foco importante de preocupação em relação à dinâmica prospectiva da
inflação continua sendo o desempenho da oferta agregada nos próximos
trimestres. A esse respeito, note-se que a utilização da capacidade instalada,
segundo dados da CNI dessazonalizados pelo Banco Central, registrou acomodação
em janeiro, decrescendo 0,3% em relação a dezembro, mas ainda se encontra em
patamares elevados historicamente, de 82,6%.
21.
No comércio exterior, os superávits expressivos foram
mantidos em fevereiro, e as perspectivas para o ano continuam bastante
favoráveis. As exportações e as importações continuaram a expandir-se a taxas
elevadas nos dois primeiros meses do ano, em relação a igual período do ano
anterior. No acumulado de doze meses até fevereiro de 2005, as exportações
cresceram 33,9% em termos de valor, em relação aos doze meses anteriores. No
mesmo critério de comparação, as importações vêm respondendo à forte expansão
na demanda doméstica com incremento de 33,5%. O saldo comercial totalizou
US$35,1 bilhões nos últimos doze meses, o que representa uma expansão de 34,6%
em relação aos doze meses encerrados em fevereiro de 2004. Em termos de volume,
na comparação de janeiro de 2005 com o mesmo mês do ano anterior, as
exportações de manufaturados continuaram sendo o item de maior taxa de
crescimento, enquanto os bens de capital foram os maiores destaques no lado das
importações. O bom desempenho dos saldos comerciais proporcionou superávit em
transações correntes de US$11,7 bilhões no período de doze meses encerrado em
fevereiro, equivalente a 1,9% do PIB. Há sinais, portanto, de que a demanda
externa continua contribuindo para a expansão da economia.
22.
As condições dos mercados internacionais de capitais
deterioraram-se desde a última reunião do Copom. Nos Estados Unidos, a maior
preocupação com a inflação manifestada pelo Federal Reserve (FED) e
comentários de seus dirigentes sobre a adequação do apreçamento dos títulos
norte-americanos de longo prazo provocaram uma elevação da curva futura de
juros desses títulos, com repercussões sobre as economias emergentes. O risco-Brasil
aumentou e, acompanhando o movimento observado em várias outras moedas de
economias emergentes, a taxa de câmbio no Brasil depreciou-se. Conforme
destacado nas Notas das reuniões passadas do Copom, a farta disponibilidade de
liquidez internacional e a estabilidade dos mercados continuam condicionadas ao
quadro macroeconômico nos países industrializados, especialmente nos Estados
Unidos, e à possível resposta da política monetária do FED à sua evolução.
Apesar da volatilidade verificada nas últimas semanas, o Copom continua
atribuindo baixa probabilidade a um cenário de deterioração significativa nos
mercados financeiros internacionais em função de mudanças abruptas na condução
da política monetária norte-americana.
23.
Os preços internacionais do petróleo voltaram a subir
de forma quase contínua desde a segunda semana de fevereiro, atingindo
recentemente níveis superiores aos alcançados em outubro passado. O
comportamento dos preços reflete informações acerca das condições de demanda e
do estoque disponível de petróleo nos principais países consumidores – em
especial, em virtude de condições climáticas no hemisfério norte – assim como
possíveis restrições na oferta por parte dos países produtores. Com o aumento
nos preços do petróleo, os preços internacionais da gasolina voltaram a
situar-se acima dos preços praticados no mercado doméstico. A persistência
desses patamares elevados no futuro continua cercada de um grau razoável de
incerteza, que levou o Copom a manter em seu cenário básico a hipótese de que não
haverá reajuste nos preços domésticos dos combustíveis em 2005. No entanto, é
importante assinalar que esse quadro externo mais desfavorável passou a
representar um risco maior para a trajetória futura da inflação do que havia
sido avaliado na reunião de fevereiro do Copom. Como ressaltado em ocasiões
anteriores, ainda que essa escalada recente não se traduza em aumento doméstico
no preço da gasolina, ela tem efeitos sobre os preços de insumos derivados do
petróleo e sobre as expectativas dos agentes econômicos.
24.
Desde a última reunião do Copom, a mediana das
expectativas coletadas pela Gerin para a variação do IPCA em 2005 apresentou
aumento, passando de 5,72% para 5,77%. Conforme destacado nas Notas das últimas
reuniões do Copom, as expectativas para a inflação de 2005 foram pouco
sensibilizadas, nos últimos meses, por desenvolvimentos favoráveis que poderiam
contribuir para arrefecer as pressões inflacionárias, tais como os sinais de
desaceleração no ritmo de crescimento da economia, a queda nos preços
industriais no atacado, a reavaliação das expectativas de mercado para a
trajetória da taxa de câmbio e a postura mais restritiva de política monetária.
O crescimento marginal da expectativa para 2005, contudo, está ligado
principalmente a reajustes de alguns preços administrados em valor maior do que
o esperado, como foi o caso do item ônibus urbano, e à evolução menos favorável
do cenário internacional. Entretanto, as expectativas para a inflação doze
meses à frente e para 2006 permanecem estáveis, sugerindo que a postura
monetária mais restritiva tem evitado que as pressões inflacionárias de curto
prazo se propaguem para horizontes mais longos.
25.
A projeção de inflação do cenário de referência, que
pressupõe a manutenção da taxa Selic em 18,75% a.a. e da taxa de câmbio em
R$2,70 ao longo de todo o horizonte de projeção, apresentou elevação em relação
à reunião anterior do Copom, situando-se, portanto, acima do objetivo de 5,1%
para o ano. Essa deterioração deveu-se a uma conjunção de fatores, entre os quais
a ocorrência de uma inflação maior do que a prevista em fevereiro, a
atualização da medida do hiato do produto pela incorporação dos dados das
Contas Nacionais do quarto trimestre de 2004, a depreciação do câmbio entre as
reuniões de fevereiro e março e a revisão das projeções para preços
administrados. As projeções baseadas no cenário de mercado, que incorporam as
trajetórias de câmbio e da taxa Selic esperadas pelo mercado no período
imediatamente anterior à reunião do Copom, situam-se acima das projeções do
cenário de referência, e recuaram em relação ao mês anterior, devido à menor
depreciação cambial projetada e à expectativa de uma curva de juros mais
elevada. Para 2006, houve uma melhora na margem nas projeções, estando a do
cenário de referência abaixo e a do cenário de mercado acima da meta
estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o próximo ano. A
melhora da projeção para 2006 deve-se ao maior prazo para que se consolidem os
efeitos da postura de política monetária adotada desde setembro de 2004 e
também ao fato de que os fatores que puxaram a previsão da inflação para 2005
se concentram mais acentuadamente no primeiro trimestre deste ano.
26.
O Copom também considerou as projeções de inflação para
horizontes situados entre dezembro de 2005 e dezembro de 2006, como os períodos
de doze meses que se encerram em março de 2006, junho de 2006 e setembro de
2006. Trata-se de horizontes cujos resultados serão mais sensíveis às decisões
correntes de política monetária do que os do ano calendário de 2005, sendo, ao
mesmo tempo, períodos cobertos por projeções de inflação mais confiáveis do que
as já disponíveis para o ano calendário de 2006. A projeção do cenário de
referência para o período de doze meses que se encerra em março de 2006 encontra-se
levemente acima do seu valor na trajetória de metas obtida pela interpolação do
objetivo de inflação de 5,1% para 2005 e da meta de 4,5% estabelecida pelo CMN
para 2006. Já as projeções do cenário de referência para os períodos de doze
meses que se encerram em junho de 2006 e em setembro de 2006 se encontram
abaixo dos valores na trajetória de metas que dizem respeito a esses mesmos
períodos.
27.
Tal como na reunião de fevereiro, o Comitê considera
que os efeitos do ciclo de aumento da taxa de juros iniciado em setembro de
2004 já se fazem sentir tanto nos resultados mais favoráveis da inflação no
início do ano como nas projeções de inflação para horizontes mais longos
realizadas pelo Banco Central e pelos analistas do setor privado. A atividade
econômica continua em expansão, mas a um ritmo menor e mais condizente com as
condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a
inflação.
28.
Por outro lado, a existência de alguns focos
localizados de pressão na inflação corrente e a deterioração recente no cenário
externo, com nova escalada nos preços do petróleo e maior incerteza acerca da
condução da política monetária norte-americana, aumentaram os riscos a que
estão sujeitas as perspectivas de convergência da inflação para a trajetória de
metas, em relação ao que havia sido avaliado pelo Comitê na reunião de
fevereiro.
29.
No regime de metas para a inflação, a autoridade
monetária orienta suas decisões de acordo com os valores futuros projetados
para a inflação, analisando diversos cenários alternativos para a evolução das
principais variáveis que determinam a dinâmica dos preços. A elevação dos
riscos para a inflação de curto prazo tende a aumentar a incerteza em relação
ao comportamento futuro da inflação, dificultando tanto a avaliação de cenários
pela autoridade monetária quanto a coordenação de expectativas dos agentes
privados. Nesse ambiente, uma maior incerteza determinada por fatores de risco
que, em função de suas características, poderão se reverter em breve, poderia
afetar de forma mais duradoura as expectativas de inflação. Cabe à política
monetária, portanto, manter-se especialmente vigilante para evitar que pressões
detectadas em horizontes mais curtos se propaguem para horizontes mais longos.
30.
Diante disso, o Copom decidiu, por unanimidade,
aumentar a meta para a taxa Selic para 19,25% a.a., sem viés, e acompanhar
atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a sua próxima
reunião, para então definir os próximos passos na estratégia de política
monetária implementada desde setembro de 2004. Como ressaltado também nas Notas
da reunião de fevereiro, é necessário que a Autoridade Monetária esteja pronta
a adequar às circunstâncias o ritmo e a magnitude do processo de ajuste da taxa
de juros básica, caso venham a exacerbar-se os fatores de risco acompanhados
pelo Comitê.
31.
Ao final da reunião, foi registrado que o Comitê
voltaria a se reunir em 19 de abril de 2005 para as apresentações técnicas e,
no dia seguinte, para deliberar sobre a política monetária, conforme
estabelecido pelo Comunicado 12.631, de 29.10.2004.
SUMÁRIO DOS DADOS ANALISADOS PELO COPOM
32.
O volume de vendas do comércio varejista registrou
queda de 0,3% em janeiro, em relação ao mês anterior, segundo dados da PMC do
IBGE, de abrangência nacional, ajustados sazonalmente pelo Banco Central. Todas
as atividades que integram o índice geral de vendas mostraram decréscimo no
período, mas o recuo mais acentuado, de 2,6%, foi observado no segmento de
automóveis, motos e partes, que não integra a composição do índice geral.
Ressalte-se que, apesar da variação negativa, o resultado do comércio geral
mostrou-se favorável, tendo em vista a acentuada expansão nas vendas registrada
em dezembro, 3,8%. Assim, o desempenho de janeiro evidenciou a manutenção da
atividade varejista em patamar elevado, ainda que mostrando acomodação na
tendência de crescimento. O setor registrou expansão de 9,25% nos últimos doze
meses.
33.
Para fevereiro, depois de seguidas altas nos últimos
meses, dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) revelaram quedas de 1%
no número de consultas para compras a
crédito e de 1,2% nas consultas ao sistema Usecheque, em comparação ao
observado no mês anterior, após ajuste sazonal. Esse resultado também sugere a
acomodação na expansão das vendas no início de 2005. No ano, até fevereiro,
comparativamente ao mesmo período de 2004, esses indicadores mostraram aumentos
de 6,7% e 5%, respectivamente.
34.
A pesquisa mensal da Fecomercio SP registrou, em março,
declínio mensal de 0,6% no ICC, indicador que havia registrado patamar recorde
no mês anterior. A variação do mês foi resultado do recuo de 1,4% no Índice de
Expectativas do Consumidor (IEC), que suplantou o aumento de 0,8% no Índice das
Condições Econômicas Atuais (Icea). Note-se que o Icea atingiu patamar recorde
em fevereiro, de 126,6, em escala que varia de 0 a 200.
35.
Em relação aos indicadores de investimento, as
importações de bens de capital mostraram aumento mensal de 2,6% em janeiro,
após ajuste sazonal, acelerando a tendência de expansão observada em 2004. Por
outro lado, a produção doméstica de bens de capital recuou 1,5%, na mesma base
de comparação, revelando acomodação após o crescimento de 19,7% verificado em
2004. A produção de insumos da construção civil diminuiu 0,2% em janeiro, em
relação à do mês anterior, após ajuste sazonal, mas superou em 2,6% a produção
do mesmo mês de 2004.
36.
Segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a
produção industrial brasileira recuou 0,5% em janeiro, na série
dessazonalizada, em relação à do mês anterior, resultado do acréscimo de 1,1%
na indústria extrativa mineral, enquanto a produção da indústria de
transformação recuou 0,3%. Considerando-se o patamar produtivo pela média móvel
trimestral, houve ligeiro avanço de 0,1% entre dezembro e janeiro,
registrando-se, nesse último mês, o pico da série histórica do indicador.
37.
A análise da produção industrial por atividades revelou
que o decréscimo na produção em janeiro ocorreu em 13 das 23 atividades, e em 3
das 4 categorias de uso. Destaque-se a produção de bens de consumo semi e não
duráveis, única categoria com resultado positivo na comparação com o mês
anterior, de 3,7%, acumulando alta de 7,4% no trimestre, confirmando a
tendência de recomposição da demanda interna.
38.
Estatísticas da CNI sobre o desempenho da indústria de
transformação mostraram estabilidade nas vendas reais e queda de 1,4% nas horas
trabalhadas na produção em janeiro, em relação às do mês anterior, nas séries
ajustadas sazonalmente pelo Banco Central. Em relação aos índices observados em
janeiro de 2004, as vendas reais aumentaram 3,1% e as horas trabalhadas 8,2%. O
nível de utilização da capacidade instalada alcançou 82,6% em janeiro, com
recuo mensal de 0,3% na série dessazonalizada e aumento de 1,9% ante o nível
observado no mesmo mês de 2004.
39.
Indicadores referentes à atividade industrial
sinalizaram tendência de recuperação em fevereiro, após ajuste sazonal, depois
do recuo observado em janeiro. Dentre esses, destacam-se as variações mensais
positivas na produção de autoveículos, no número de pedágios de veículos
pesados em rodovias, e no volume de expedição de papelão ondulado.
40.
O índice de emprego formal cresceu 0,6% em janeiro,
ante o de dezembro, após ajuste sazonal, de acordo com informações do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Comparativamente ao índice de janeiro
de 2004, houve expansão de 6,6% no emprego formal, com a criação de 1.539 mil
empregos líquidos no período, a maior parte na indústria de transformação.
41.
Segundo a PME, realizada pelo IBGE nas seis principais
regiões metropolitanas do país, a taxa de desocupação atingiu 10,2% em janeiro,
ante 9,6% no mês anterior e 11,7% no mesmo mês de 2004. O acréscimo mensal na
taxa de desocupação obedeceu ao componente sazonal, com aumento mensal de 5% no
número de pessoas desocupadas e queda de 1,4% no número de ocupados. A PEA,
estimada em 21,7 milhões de pessoas, recuou 0,7% em janeiro.
42.
No setor industrial, segundo os índices da CNI
ajustados sazonalmente pelo Banco Central, o pessoal empregado evoluiu 0,3% e a
massa salarial real recuou 0,1% em janeiro, em relação ao mês anterior. Em
relação aos índices observados em janeiro de 2004, a massa salarial real e o
contingente de pessoal empregado cresceram 10,5% e 7,1%, respectivamente.
43.
O saldo das operações de crédito do sistema financeiro
com recursos livres cresceu 2,5% em fevereiro. O saldo das operações com
pessoas físicas cresceu 3,2%, principalmente pelo comportamento do crédito
pessoal, estimulado pela expansão das operações consignadas em folha de
pagamento. Nas carteiras destinadas a pessoas jurídicas, com recursos
domésticos, o saldo cresceu 1,9%, com destaque para as operações de capital de
giro. O saldo dos recursos destinados a pessoas jurídicas, referenciados em
moeda estrangeira, aumentou 2,3%, com o aumento das concessões nos empréstimos
vinculados às exportações.
44.
A taxa média de juros incidente sobre as operações de
crédito com recursos livres passou de 46,8% a.a. em janeiro para 47,5% a.a. em
fevereiro. Nas operações com pessoas jurídicas, houve acréscimo de 0,2 p.p. na
taxa média, para 32,4% a.a., enquanto a taxa média das operações com pessoas
físicas subiu 0,6 p.p., ao situar-se em 64% a.a.
45.
A taxa de inadimplência das operações bancárias com
crédito livre, em fevereiro, manteve-se estável em 7,3%. As operações
contratadas com pessoas jurídicas tiveram a taxa de inadimplência reduzida de
3,6% para 3,5%, enquanto a referente às operações com pessoas físicas situou-se
em 12,4%, repetindo comportamento registrado no mês anterior.
46.
A taxa líquida de inadimplência no comércio, calculada
pela ACSP, aumentou de 4,7% em janeiro para 7% em fevereiro, ficando
praticamente no mesmo nível observado em fevereiro de 2004, 7,2%. No mês, o número
de novos registros negativos cresceu 4,6%, enquanto o número de registros
cancelados recuou 7,9%. No ano, até fevereiro, a taxa média de inadimplência
ficou em 5,9%, ante 6% no primeiro bimestre de 2004.
47.
O crescimento do PIB dos EUA confirmou a expansão
sustentável da economia, ao atingir 4,4% em 2004, após 3% em 2003. Dados mais
recentes evidenciam o bom momento da economia norte-americana, com expansão da
atividade e recuperação dos empregos. No entanto, alguns indicadores vêm sendo
acompanhados com mais cautela, como a tendência da produtividade, do custo
unitário do trabalho e os sinais de repasse de aumentos de custos ao nível do
produtor para os preços ao consumidor, dadas as implicações para o processo de
estabilidade de preços no médio e longo prazos. O mercado de títulos do tesouro
voltou a operar com maior volatilidade, acompanhando os movimentos dos mercados
cambiais, refletindo as inquietações quanto à sustentabilidade do financiamento
dos déficits fiscal (US$113,9 bilhões) e externo (US$58,3 bilhões) da economia
americana, verificados em janeiro.
48.
Na Área do Euro, os indicadores referentes ao último
trimestre de 2004 registraram tendência de desaceleração da economia da região.
No Japão, os dados revisados do PIB para o quarto trimestre de 2004 apontaram
crescimento de 0,1% em relação ao terceiro trimestre de 2004, perfazendo
expansão de 2,7% no ano.
49.
Nas principais áreas econômicas ainda não existem
evidências do surgimento de surtos inflacionários no curto prazo, o que contém
os temores de alterações de rumo em suas políticas monetárias. Os índices
anuais de preços ao consumidor recuaram em janeiro nos EUA, no Reino Unido e no
Japão, ao atingir 3%, 1,4% e -0,1%, respectivamente. Porém, os índices anuais
de preços ao consumidor na Área do Euro e na China mostraram expansão,
alcançando, respectivamente, 2,1% e
3,9%, em fevereiro.
50.
Os preços das commodities
agrícolas reverteram a tendência de baixa, apresentando elevação em fevereiro,
tendo em vista o impacto de quebras de safras. Relativamente ao petróleo e às
principais commodities metálicas, a
evolução dos preços tem sustentado a trajetória de alta de forma consistente
desde meados de fevereiro, com os preços futuros se deslocando para patamares
mais elevados.
51.
Todos os resultados da balança comercial em fevereiro
constituíram recordes históricos em meses de fevereiro, no primeiro bimestre do
ano e em períodos de doze meses. No mês, a balança comercial registrou superávit
de US$2,8 bilhões, com as exportações totalizando U$7,8 bilhões, crescimento de
35,6%, e as importações, U$5 bilhões, acréscimo de 32,5%, comparativamente aos
valores médios diários ocorridos em igual mês de 2004. Em março, até a segunda
semana (nove dias úteis), o saldo comercial totalizou US$1,4 bilhão,
registrando-se expansão de 21,6% nas exportações e de 11,6% nas importações,
ante os valores médios observados em março do ano anterior.
52.
No que se refere às exportações, o crescimento do
volume das vendas de produtos tradicionais vem sendo acompanhado por ampliação
significativa de itens com pequena participação, mostrando o processo de
diversificação da pauta. Destaque-se, adicionalmente, a expansão das vendas
para todas as regiões, inclusive para mercados com pequena participação nas
exportações brasileiras. Além do aumento das quantidades embarcadas, o
crescimento da receita de exportações decorreu da elevação nos preços externos
de importantes itens da pauta.
53.
O aumento das importações em fevereiro e no primeiro
bimestre do ano decorreu do crescimento de todas as categorias de produtos,
destacando-se, no bimestre, os aumentos de 37,6% em bens de consumo não
duráveis, 27,9% em bens de capital e 24,6% em matérias-primas e bens
intermediários, consideradas as médias diárias em relação às de igual período
do ano anterior. Houve também expansão de 49,4% nas compras externas de
combustíveis e lubrificantes, na mesma base de comparação.
54.
Ao final de fevereiro, as reservas internacionais
situaram-se em US$59 bilhões e as reservas líquidas ajustadas, conforme
definição constante do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em
US$31,4 bilhões, ambas com acréscimo de US$6,1 bilhões ante os saldos
registrados no final de 2004.
55.
No período posterior à reunião do Copom de fevereiro,
principalmente após a divulgação da Ata daquela reunião, ocorreu uma redução
das taxas de juros futuros, com destaque para as de prazo mais longo.
Contribuíram para esse movimento, também, a queda dos índices de inflação
corrente e de seus núcleos. Já a pequena elevação das expectativas de inflação
para 2005 e, especialmente, a piora do cenário externo observada no período
diminuiu o otimismo do mercado, colaborando para a redução da inclinação
negativa do trecho mais longo da curva de juros. Entre 16 de fevereiro e 16 de
março, a taxa de juros de um mês aumentou 0,16 p.p, enquanto que as taxas de
seis meses e de 1, 2 e 3 anos recuaram 0,12 p.p, 0,19 p.p, 0,04 p.p. e 0,05
p.p, respectivamente. A taxa real de juros, medida pelo quociente entre a taxa
nominal de um ano e a expectativa de inflação para os próximos doze meses,
elevou-se para 12,42%, ante 12,32%.
56.
Com o objetivo de reduzir a exposição cambial do setor
público, o Banco Central continuou a realizar os leilões de swap cambial
– iniciados em 2 de fevereiro – nos quais assume posição ativa em variação
cambial e passiva em taxa de juros doméstica. No período, foram contratados
nessas operações o equivalente a US$7,3 bilhões. Assim, o resgate líquido de
instrumentos cambiais em 2005 já alcançou US$14,5 bilhões.
57.
O Tesouro Nacional efetuou vendas de R$15,9 bilhões em
quatro leilões de LTN de vencimento em abril de 2006 e em janeiro de 2007. Em
quatro leilões de venda de NTN-F, de vencimento em janeiro de 2008 e em janeiro
de 2010, foram colocados R$620 milhões. Foram realizados, ainda, quatro leilões
de venda e quatro leilões de troca de LFT de vencimento em 2006, 2007 e 2008.
Nos leilões de venda, o montante financeiro alcançou R$12,4 bilhões, enquanto
que, nos leilões de troca, o volume correspondeu a R$8,1 bilhões.
58.
Com o objetivo de reduzir o excedente de liquidez
bancária previsto para o próximo trimestre, o Banco Central vendeu, em quatro
leilões, LTN de vencimento em julho de 2005, de sua carteira, liquidando as
operações com a compra de LTN de vencimento em abril de 2005. O volume
financeiro dessas operações correspondeu a R$3,8 bilhões. O Banco Central
realizou, ainda, em quatro outros leilões, vendas definitivas de LTN de vencimento
em julho de 2005, também de sua carteira, num montante de R$7,5 bilhões.
59.
Na administração da liquidez corrente, o Banco Central
efetuou operações compromissadas semanais prefixadas, com prazo de três meses,
e pós-fixadas, com prazo de um mês, e operações de nivelamento da liquidez ao
fim do dia. Também interveio em dezoito ocasiões por meio de operações
compromissadas de curtíssimo prazo, sendo nove tomadoras e nove doadoras de
recursos. O excesso de liquidez bancária esterilizado por operações com prazo
de até trinta dias alcançou a média de R$14,3 bilhões e, por operações com
prazo de três meses, a média de R$37,4 bilhões.
60.
Em fevereiro, o estoque da dívida pública mobiliária
federal interna elevou-se em 2,3%, devido à apropriação de juros e à colocação
líquida de R$9,5 bilhões em títulos. O percentual da dívida exposta à variação
cambial voltou a registrar redução, de 8,0%, no final de janeiro, para 6,0%, no
final de fevereiro, em razão, principalmente, do resgate líquido de
instrumentos cambiais, da ordem de R$15,5 bilhões.